Conhecimento
Doação de corpos contribui para formação na saúde
Pouco divulgado e discutido, ato é um passo importante para garantir material científico e de estudo às próximas gerações de profissionais
Foto: Jô Folha - DP - Professor da Famed, Tavares ressalta a importância de contar com doadores e que o uso do material recebido é com absoluto respeito
Por Vitória de Góes
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Durante a formação, é indispensável que os profissionais da área da saúde utilizem o corpo humano como meio de estudo, já que manequins ou imagens virtuais não são suficientes para alcançar profundidade de detalhes. Mas conseguir o material necessário não é tarefa fácil, já que nem todo mundo tem conhecimento sobre a possibilidade de ser um doador. Dessa forma, desde 2015, o Departamento de Morfologia, do Instituto de Biologia da UFPel, realiza campanhas para a doação de corpos para a instituição.
Atualmente a universidade possui 12 cursos de graduação dentro da área da saúde, todos com a disciplina de Anatomia Humana. Cada um desses possui em média 50 alunos, totalizando cerca de 600 estudantes que precisam utilizar corpos humanos para estudo aprofundado, o que ocasiona desgaste acelerado do que é disponibilizado. Desde 2010 o laboratório de Morfologia registra somente 28 declarações de doadores e atualmente possui somente seis cadáveres disponíveis para as aulas, além de outros três em fase de preparação. A última doação foi recebida em 2019.
Conforme o professor Carlos Alberto Tavares, ainda é difícil conseguir doações para este fim científico. Entre os fatores, ele cita o apego das pessoas pela matéria e, ainda, a falta de conhecimento sobre como funciona o processo. “Nós temos cadáveres aqui que estão há quase 40 anos e são utilizados mais para demonstração, como se fosse um livro de consulta. Já outros ficam disponíveis para que os alunos mexam e aprendam, então duram menos tempo”, explica o professor.
Carlos reconhece que o ato de desapegar do próprio corpo ou de um familiar é um gesto de alto desprendimento e reconhecimento da contribuição para a ciência. Por isso, sempre que o laboratório recebe uma doação, escreve uma carta especial em agradecimento. “Vou pessoalmente na casa do familiar para entregar a carta, conversar e agradecer. A gente tem que valorizar porque é muito significativo.”
Além disso, é exigido dos alunos o máximo respeito aos corpos e a todos os materiais do local. Tudo fica coberto e guardado, e só é colocado à mostra a parte do corpo que está sendo estudada naquele momento. O professor explica ainda que não há compensação financeira à doação, sendo um ato totalmente voluntário. E, mesmo após a cedência, quando o corpo ainda estiver armazenado em processo de formolização, a família pode reconsiderar e resgatar o mesmo. Após esse período, entretanto, passa a ser exclusivo de utilização científica.
Quem pode e como realizar a doação
Qualquer corpo pode ser doado, independente da enfermidade que causou a morte, desde que haja liberação legal através de atestado de óbito registrado em cartório. Não há restrição de idade, podendo ser desde recém-nascido a idosos. O processo é simples, o doador precisa assinar um termo de consentimento de duas vias com alguns dados pessoais, possuir testemunhas e registrar em cartório. Já para mortes não naturais, como acidentes ou agressões físicas, só poderão ser doados após a liberação e laudo do Instituto Geral de Perícias, além do atestado de óbito.
É possível tanto declarar a doação do próprio corpo, quanto doar de um familiar pós-morte. O termo é disponibilizado no laboratório de Morfologia, dentro do Campus da Faculdade de Medicina (Famed) da UFPel e no Hospital Escola da universidade.
Para mais informações ou informar a intenção de doação, é possível entrar em contato com a Famed através do telefone (53) 3921-1198, ou ainda com o bloco de Anatomia pelo número (53) 3310-1808.
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